quarta-feira, 17 de março de 2010

João Cabral de Melo Neto

Tecendo a Manhã 
1. 
Um galo sozinho não tece uma manhã: 
ele precisará sempre de outros galos. 

De um que apanhe esse grito que ele 
e o lance a outro; de um outro galo 
que apanhe o grito de um galo antes 
e o lance a outro; e de outros galos 
que com muitos outros galos se cruzem 
os fios de sol de seus gritos de galo, 
para que a manhã, desde uma teia tênue, 
se vá tecendo, entre todos os galos. 
  

2. 
E se encorpando em tela, entre todos, 
se erguendo tenda, onde entrem todos, 
se entretendendo para todos, no toldo 
(a manhã) que plana livre de armação. 

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo 
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto
A Educação pela Pedra 

2 comentários:

  1. Este poema parece um quadro... sempre que leio vejo um quadro. Queria saber pintar uma tela...um dia ainda vou tentar! Lindo seu espaço.

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  2. (...)
    "E não há melhor resposta
    que o espetáculo da vida:
    vê-la desfiar seu fio,
    que também se chama vida,
    ver a fábrica que ela mesma,
    teimosamente, se fabrica,
    vê-la brotar como há pouco
    em nova vida explodida;
    mesmo quando é assim pequena
    a explosão, como a ocorrida;
    mesmo quando é uma explosão
    como a de há pouco, franzina;
    mesmo quando é a explosão
    de uma vida severina."

    Tá bão, tá bão!!!
    Os outros 'tamém' são 'bão' 'dimais' da conta,
    mas 'esti' 'si' supera!!!
    Abraços
    'Jão' Paulo

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